Não é, de todo, incomum haver campeãs precoces na natação. Nos Jogos Olímpicos, o recorde pertence à australiana Sandra Morgan, medalha de ouro na estafeta dos 4x100m livres nos Jogos de Melbourne em 1956, com 14 anos e seis meses. Os Mundiais de natação não têm limite mínimo de idade para os atletas participantes e, assim, apareceu na piscina de Kazan uma menina do Bahrein que nasceu em 2005. Alzain Tareq tem apenas dez anos, mas já é uma recordista.
Ao nadar nesta sexta-feira nas eliminatórias dos 50m mariposa (e ainda vai participar nos 50m livres), Alzain tornou-se na mais nova nadadora de sempre da história dos Mundiais de natação. A menina alinhou na primeira série, na pista dois, ao lado de nadadoras do Bangladesh, Kosovo, Etiópia e Ilhas Marianas do Norte, e, sem surpresa, ficou em último, com o tempo de 41,13s, que também lhe valeu a última posição entre as 64 nadadoras no conjunto de todas as séries. A mais rápida seria a sueca Sarah Sjostrom, com 25,43s, enquanto Fatoumata Samasskou, das Ilhas Marianas, foi a segunda mais lenta (36,31s).
Bem mais pequena e mais franzina do que todas as outra nadadoras altas e musculadas, Alzain até nem se importou com a atenção mediática que lhe foi dirigida e vibrou com a possibilidade de partilhar a piscina com as melhores do mundo. “Estou muito feliz. Estava um pouco nervosa porque nunca tinha nadado com tanta gente a ver, mas correu bem e quero muito voltar a nadar amanhã [nos 50m livres]. Até falei com a Sarah Sjostrom e pedi-lhe se podia tirar uma fotografia com ela e ela desejou-me boa sorte”, disse a pequena Alzain.
A menina-nadadora pode estar em Kazan porque não há limite mínimo de idade, mas não poderia, por exemplo, participar num Mundial de natação de juniores, em que as raparigas têm de ter uma idade mínima de 14 anos. Também não poderá nadar nos Jogos Olímpicos do próximo Verão, no Rio de Janeiro, mas espera já estar nos Jogos de Tóquio em 2020. Enquanto tal não acontece, vai continuar a estudar e a nadar cinco vezes por semana. E a crescer, claro. Daqui a cinco anos, no Japão, talvez já não lhe perguntem a idade.
O “Moussambani” do Lesoto
Nos Jogos Olímpicos de Sydney 2000, Eric Moussambani fixou o “standard” pelo qual todos os nadadores vagarosos seriam avaliados. A “Enguia” da Guiné Equatorial teve os seus 15 minutos de fama nas eliminatórias dos 100m livres, onde quase se ia afogando antes de cumprir a distância em 1m52,72s, o tempo mais lento da distância na história dos Jogos Olímpicos. O nome de Moussambani é evocado sempre que aparece um perdedor espectacularmente lento na natação internacional. Para já, o candidato mais forte a “Prémio Enguia” em Kazan chama-se Mokhoro Makara, “velocista” do Lesoto.
Na prova mais rápida e mais concorrida do programa destes mundiais, Makara corria o risco de passar completamente despercebido, não fosse o seu tempo anormalmente lento. Como referência, fica a marca que corresponde ao recorde do mundo, 20,91s, do brasileiro César Cielo. A melhor marca das eliminatórias entre 113 atletas foi do francês Florent Manaudou, com 21,71s. Makara nadou em quase o triplo do tempo, 55,80s, mais 23,87s que o haitiano Frantz Dorsainvil, o segundo mais lento das eliminatórias.
Foi logo na primeira série (de 12) da primeira eliminatória, que agrupava os dez atletas com os piores tempos de inscrição. O maliano Mamadou Soumare, com 26,41s, foi o mais rápido dessa prova, enquanto Makara chegou meio minuto depois – a sua chegada nem sequer foi captada pela transmissão televisiva – e com o tempo bem mais fraco que a sua marca de inscrição nestes Mundiais (36,00s). A justificação deste nadador africano de 21 anos e estudante de Direito é simples: falta de prática.
“Só temos uma piscina no país, de 25 metros. Não pratico diariamente, depende das circunstâncias. Quando estou na faculdade, quase nunca nado. Mas quando estou de férias até nado bastante”, justifica Makara, que também ficaria atrás de todas as finalistas dos 100m livres femininos. E também perderia no duelo com Alzain Tareq, a menina do Bahrein, por quase 15 segundos.
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