Do Líbano ao Bahrein passando pelo Iémen, os protestos de repúdio contra a execução de Nimr al-Nimr estendem-se a todo o Médio Oriente. Teerão e Riade estão de costas voltadas e a execução do clérigo xiita e opositor do regime saudita ameaça não só intensificar as tensões sectárias na região como aprofundar as divisões entre sunitas e xiitas.
A minoria xiita representa cerca de 10% dos muçulmanos. O Irão conta com a maior população xiita que predomina, ainda, em países como Iraque e Bahrein. A população xiita tem, também, um peso significativo no Kuwait, Iémen, Líbano e Qatar.
Crítico da dinastia que governa a Arábia Saudita, o clérigo xiita Nimr al-Nimr era um adepto da não-violência.
A execução daquele que era considerado um dos rostos dos protestos da Primavera Árabe no país é vista como uma mudança de estratégia de Riade em relação aos críticos e à influência do Irão na região.
Países como a Arábia Saudita, o Egito, Jordânia e os Emirados Árabes Unidos têm em comum o facto de serem sunitas e de terem integrado a coligação árabe para travar o avanço dos rebeldes hutis no Iémen, formalizada em março de 2015.
Sendo o aliado árabe mais próximo dos Estados Unidos no Médio Oriente, a Arábia Saudita tem recebido ajuda militar e, ao mesmo tempo, influenciado o rumo da política externa.
Em 2015, o acordo nuclear iraniano mudou, no entanto, o equilíbrio de poderes.
Os sauditas mostraram-se inquietos e preocupados com a possibilidade de Teerão utilizar o que consideraram ser uma “oportunidade” para apoiar grupos rebeldes xiitas na região e, desta forma, desestabilizar os governos sunitas. Desde logo, com fornecimento de armas.
O Irão já está apoiar as milícias xiitas no Iraque; o Presidente sírio, Bashar al Assad, na Síria e
e rebeldes hutis no Iémen. A situação neste país tornou-se, aliás, o exemplo mais próximo de uma guerra de poderes entre sauditas e iranianos.
Já a Arábia Unido lidera uma coligação militar destinada a derrotar os rebeldes xiitas – apoiados por Teerão – e que ameaçam derrubar o governo.
Na Síria, a Arábia Saudita, juntamente com os Estados Unidos e Turquia apoiam os grupos rebeldes sunitas que contestam o regime de Bashar Al-Assad. Mas o país é, também, acusado de apoiar secretamente os radicais do Estado Islâmico.
A execução do clérigo xiita promete, por isso, extremar posições neste tabuleiro de xadrez.