O Sudão e o Bahrein anunciaram nesta segunda-feira (4) o corte das relações diplomáticas com o Irã. Os países seguiram a Arábia Saudita, que rompeu com o Irã após representações diplomáticas em Teerã e em Mashhad terem sido alvos de ataques. Nesta segunda o governo saudita também anunciou o corte de todas os voos com destino ao Irã.
Já os Emirados Árabes anunciaram a “degradação” das relações com o Irã, convocaram o embaixador que estava em Teerã e disseram que reduzirão o número de diplomatas no país.
Os protestos iranianos ocorreram após a Arábia Saudita anunciar no sábado (2) que executou o clérigo xiita Nimr Baqir al-Nimr, uma importante figura do movimento de contestação contra o regime. O Irã acusa a Arábia Saudita de agravar as tensões e os confrontos na região.
O Bahrein acusa com frequência o Irã de estar por trás de uma insurgência xiita desde que ocorreram protestos em 2011 contra os governantes sunitas.
No domingo à noite, em um novo episódio de tensão, um grupo não identificado abriu fogo contra a polícia saudita na cidade natal do clérigo, informou a imprensa oficial da Arábia Saudita.
Depois de cortar relações diplomáticas com Teerã, o governo saudita anunciou que decidiu nesta segunda-feira interromper todas suas conexões aéreas com o Irã, anunciou a Autoridade da Aviação Civil do reino.
A Liga Árabe vai se reunir em caráter de urgência, a pedido da Arábia Saudita, no próximo domingo (10) para discutir os ataques no Irã às missões diplomáticas do reino.
Execução e protestos
Entre as outras pessoas executadas junto com o clérigo estavam jihadistas sunitas acusados de ligação com a Al-Qaeda.
A execução do clérigo al-Nimr causou protestos entre os árabes xiitas e manifestantes invadiram a embaixada da Arábia Saudita em Teerã, onde 40 pessoas foram presas.
O ministro saudita das Relações Exteriores, Adel al-Jubeir, considerou os ataques às representações diplomáticas “uma violação flagrante das convenções internacionais”, disse o chanceler. O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, declarou que a Arábia Saudita sofrerá uma “divina vingança” pela execução.
Após a invasão da embaixada, diplomatas sauditas foram retirados do Irã e desembarcaram em Dubai no domingo, informou a rede de TV Al Arabiya, como parada para chegar à Arábia Saudita.
O Irã afirmou que o rompimento das relações diplomáticas decidida pela Arábia Saudita não vai apagar o “erro estratégico” da execução do clérigo xiita. “A Arábia Saudita baseia sua existência na continuidade das tensões e dos enfrentamentos, e tenta resolver seus problemas internos exportando-os ao exterior”, disse Hossein Jaber Ansari, porta-voz da diplomacia iraniana.
Irmão de Nimr
O irmão de Nimr condenou os ataques contra as sedes diplomáticas sauditas e criticou o fato do clérigo ter sido enterrado em um cemitério desconhecido, segundo a France Presse. “Rejeitamos e condenamos o ataque contra as embaixadas e consulados do reino no Irã”, escreveu Mohammed al-Nimr em uma mensagem em árabe no Twitter.
Foto de arquivo do clérigo Nimr Baqir al-Nimr
(Foto: Saudi Press Agency/ Reuters)
Também pediu que o corpo do “mártir” seja rapidamente entregue à família para um funeral em Awamiya, sua cidade natal no leste da Arábia Saudita.
Manifestações xiitas
Os protestos contra a execução de Nimr Baqer al-Nimr e outras 46 pessoas na Arábia Saudita provocou manifestações violentas na comunidade xiita em vários países do Oriente Médio, como Irã, Iraque, Bahrein e Líbano.
De acordo com Amir Abdollahian, a Arábia Saudita “prejudicou os interesses de seu próprio povo e das populações muçulmanas da região com o complô para provocar a queda do preço do petróleo”.
O Irã considera que a Arábia Saudita teve um papel primordial na queda do preço do petróleo ao manter a produção em um nível muito elevado.
As cotações do petróleo estavam elevadas nesta segunda-feira após a decisão saudita de romper relações com o Irã. As duas potências regionais também se enfrentam pelas crises na Síria, Iraque e Iêmen, com trocas de acusações sobre ambições expansionistas.
Histórico de tensões
As relações entre os dois países foram interrompidas durante quatro anos, entre 1987 e 1991, depois de confrontos violentos entre peregrinos iranianos e sauditas em Meca em 1987.
Em setembro do ano passado, a morte de pelo menos 2.236 peregrinos, incluindo 464 iranianos, em Mina, perto de Meca, aumentou a tensão entre os países.
Depois da execução do clérigo xiita e das manifestações no Irã, o governo dos Estados Unidos pediu às autoridades do Oriente Médio que adotem medidas para apaziguar a situação.
Preocupação internacional
Antes do rompimento das relações entre os dois países, os governos dos Estados Unidos, França, e Alemanha, assim como a União Europeia e a ONU, já haviam manifestado preocupação com o aumento da tensão em uma região afetada por conflitos e guerras.
Nesta segunda-feira, a Casa Branca pediu para a Arábia Saudita e o Irã mostrarem moderação na crise impulsionada pela execução de um clérigo xiita pela Arábia Saudita.
“Continuamos preocupados com a necessidade dos iranianos e sauditas de reduzirem as tensões da situação. Pedimos a todos os lados que mostrem maior moderação para não inflamarem mais ainda as tensões na região”, disse o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, em entrevista coletiva diária.
A Rússia se ofereceu como intermediária na disputa entre Arábia Saudita e Irã. “A Rússia está disposta a atuar como intermediária entre Riad e Teerã”, disse uma fonte do ministério das Relações Exteriores, sem entrar em detalhes sobre o papel que poderia ser desempenhado por Moscou. A França também fez um apelo aos dois países para que reduzam as tensões.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, criticou a execução de 47 pessoas, incluindo um clérigo xiita, e disse que a tensão entre Riad e Teerã é “extremamente preocupante”.
“Nós condenamos e não apoiamos a pena de morte em quaisquer circunstâncias, e isso inclui a Arábia Saudita”, declarou Cameron a repórteres em Londres. A tensão entre Riad e Teerã pela execução do clérigo xiita, “é enormemente preocupante porque queremos estabilidade no Oriente Médio”, acrescentou.
Essa estabilidade “é absolutamente essencial para resolver a crise na Síria, que é a causa de muitos destes problemas”, estimou Cameron.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, disse ao ministro das Relações Exteriores saudita por telefone que a decisão de cortar laços diplomáticos com o Irã é extremamente problemática, afirmou um porta-voz da ONU.
“O secretário-geral reiterou que o ataque à embaixada saudita em Teerã foi deplorável, mas acrescentou que o anúncio da ruptura de relações diplomáticas da Arábia Saudita com Teerã é profundamente preocupante”, disse o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, a repórteres.
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