Por David Santiago – Jornal de Negócios
O Qatar deu instruções ao seu embaixador no Irão para abandonar o país e regressar a casa. De acordo com a agência noticiosa QNA, citada pela Reuters, a decisão foi tomada esta quarta-feira, 6 de Janeiro.
Desta forma, o Qatar junta-se ao rol de países de maioria sunita, ou governados por famílias reais sunitas, que nos últimos dias têm cortado relações com o Irão em demonstrações de solidariedade diplomática com a Arábia Saudita.
Na segunda-feira, o Sudão e o Bahrein cortaram relações diplomáticas com Teerão, uma decisão seguida na terça-feira pelo Kuwait que também deu indicações ao seu embaixador no Irão para voltar para o país do Golfo Pérsico. Também na segunda-feira, os Emirados Árabes Unidos reduziram o grau de relações diplomáticas com o Irão.
Durante a última manhã, também o Dijibouti, um pequeno país situado no nordeste africano, cortou relações com Teerão, enquanto a Jordânia condenou as acções de protestantes iranianos xiitas contra a embaixada saudita. Esta movimentação dos aliados de Riade contrasta com os apelos da comunidade internacional ao refriar da tensão entre os dois países, a maior crise desde a revolução islâmica liderada pelo ayatollah Khomeiny.
As autoridades do Qatar justificaram a decisão com o ataque feito por vários cidadãos iranianos à embaixada saudita em Teerão, um ataque que configurou uma “violação das normas internacionais que asseguram a segurança e a protecção das missões diplomáticas e dos seus membros”.
Este ataque à embaixada da Arábia Saudita no Irão aconteceu depois de no passado sábado as autoridades sauditas terem levado a cabo a execução, por decapitação, de quase meia centena de pessoas alegadamente com ligações a organizações e operações terroristas. Entre elas estava o xeque xiita Nimr al-Nimr, um dos principais rostos do activismo dos direitos da minoria xiita saudita, cuja maior parte habita na zona leste da Arábia Saudita, a mais rica em recursos petrolíferos.
O Irão prometeu “vingança divina” e garante que Riade está a utilizar o ataque à embaixada saudita como desculpa para incendiar as relações entre dois países que há muito lutam pela supremacia regional. Um embate que se tornou ainda mais notório com a aproximação dos Estados Unidos, e da restante comunidade internacional, relativamente ao Irão no seguimento das negociações sobre o nuclear iraniano.
Por outro lado, Irão e Arábia Saudita digladiam-se em guerras eufemisticamente designadas de “procuração” na Síria e no Iémen, onde cada um dos países apoia xiitas e sunitas, respectivamente.
Enquanto isso, a tensão no Iémen cresceu nos últimos dias, com a coligação militar liderada pela Arábia Saudita a intensificar os bombardeamentos aéreos contra as posições dos houthis xiitas. E na Arábia Saudita, sobem de tom e de número os protestos da minoria xiita contra a execução do clérigo Nimr.