O uniforme é de atleta. A credencial pendurada no pescoço indica o mesmo. Mas o rosto revela que Alzain Tareq Juma Salem ainda é uma criança. Aos 10 anos, a pequena nadadora do Bahrein é, provavelmente, a mais jovem da história a participar de Mundial, apesar de própria Federação Internacional de Natação (Fina) não saber dizer ao certo. Mas a caçulinha do campeonato em Kazan não é a única que impressiona. Sem um limite mínimo de idade estabelecido Fina, a competição na Rússia conta com nove nadadores mirins nascidos a partir de 2002, ou seja, com no máximo 13 anos.
Com apenas 10 anos, Alzain Tareq, do Bahrein, é a mais nova do Mundial (Foto: Divulgação / Kazan2015)
Tareq nadará duas provas. Nos 50m borboleta, foi inscrita com o último tempo do balizamento: 41s12. Já nos 50m livre, sua melhor marca nos últimos 12 meses, 38s21, é melhor que a de outras quatro adversárias. Ainda assim, a disparidade para as nadadoras mais velozes do mundo é gigantesca. Nos 50m livre, por exemplo, os melhores tempos do balizamento são da australiana Cate Campbell, de 23 anos, e da britânica Fran Halsall, de 25 anos: 23s26.
info – ATLETAS MIRINS mundial KAZAN (Foto: Editoria de Arte)
Entre os homens, o mais novo em Kazan é Ahnt Khaung Htut, de Mianmar. Aos 12 anos, ele protagonizou um dos momentos marcantes do primeiro dia de competição, no último domingo, quando levantou a torcida russa ao nadar sozinho sua bateria na eliminatória dos 100m peito. (Clique aqui e veja o vídeo)
– Eu amei a piscina e estou muito feliz de estar aqui. Fiquei nervoso, mas gostei bastante – disse o garoto, que já acumula a experiência de ter participado do Mundial de piscina curta de Doha, em dezembro do ano passado – disse Htut, que foi o antepenúltimo entre os 76 competidores dos 100m peito.
Logo após conversar com os jornalistas na área de entrevistas, o garoto saiu correndo em direção a piscina de treinos, em um gesto bem típico da idade. Assim como a reação de Darya Semyonov, de 13 anos, do Turcomenistão, que passou pela imprensa chorando bastante e não teve condições de falar após a eliminatória dos 100m peito, onde termino em 65º entre as 69 participantes. A ganesa Kaya Forson, também de 13, deixou a água em êxtase depois de competir na eliminatória dos 200m livre.
– É muito legal estar aqui. É uma experiência fantástica. Se continuar nadando, espero que um dia eu possa ser como esses grandes nadadores. É incrível estar aqui com todos eles, participando dessa grande competição. E melhorei meu tempo em três segundos, então estou muito feliz – disse a menina de Gana, que foi a 61ª das 63 inscritas na prova.
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Mianmar é a delegação mais jovem em Kazan. Além de Htut, são outros dois atletas do país inscritos. Ambos abaixo dos 14 anos: May Thint, de 13 anos, e a pequena Su Moe Theint San, de apenas 11. Além do Bahrein e de Mianmar, outros cinco países de pouquíssima tradição no esporte contam com nadadores nascidos a partir de 2002: Nepal, Laos, Gana, Azerbaijão e Turcomenistão.
Ahnt Khaung Htut, de 12 anos, competindo sozinho nos 100m peito em Kazan (Foto: Adam Pretty / Getty Images)
Nenhum dos nove mais jovens inscritos no Mundial conseguiu o índice mínimo exigido para a classificação automática. Porém, a participação deles é permitida por conta das regras de inclusão da Fina. Para possibilitar o maior número possível de países, a entidade permite a inscrição de até quatro atletas por nacionalidade sem a marca mínima – dois homens e duas mulheres. A entidade também não estabelece limite de idade para as disputas da natação. Diferentemente dos saltos ornamentais, por exemplo, onde o mínimo é de 14 anos.
O diretor-executivo da Fina, Cornel Marculescu, defendeu a participação dos atletas mirins no Mundial e disse não acreditar em uma mudança das regras nos próximos anos. Para ele, a experiência é positiva tanto para os jovens quanto para a própria competição.
– Imagina você, esses jovens competindo aqui. Uma grande estreia, vendo todo o estádio. Tenho certeza que tudo isso é uma experiência incrível para eles… Sempre temos esses extremos, que são atrativos também para mídia. Não creio que teremos no futuro algum limite de idade – afirmou o dirigente romeno.
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