As autoridades de Teerão exigiram ontem ao Governo norte-americano um pedido de desculpa pela entrada das suas embarcações de guerra em águas territoriais do Irão, numa violação das normas internacionais. Teerão explicou a Washington que a captura dos navios e dos seus tripulantes “não havia de durar muito”. O vice-almirante Ali Favadi, comandante da Armada da Guarda Revolucionária, o corpo responsável pela segurança nas águas iranianas do Golfo Pérsico, que capturou duas patrulhas dos EUA e os seus dez tripulantes, adiantou que sucedem-se os contactos diplomáticos entre Mohamad Javad Zarif, ministro das Relações Exteriores do Irão, e o seu homólogo norte-americano, John Kerry.
A região do Golfo Pérsico e todo o Médio Oriente está a passar por uma fase de grande tensão, com destaque para a guerra na Síria, Iraque e Iémen, o conflito entre Israel e Palestina, a crise no Líbano, e a crise política e diplomática entre o Irão e a Arábia Saudita. A natureza desses conflitos tem motivações étnicas e religiosas, mas também políticas e ideológicas, que estão a criar dificuldade e a desestabilizar a região. O Irão e os Estados Unidos estão afastados política e economicamente há décadas e nem a assinatura do acordo com as grandes potências sobre o aproveitamento da energia nuclear para fins pacíficos permitiu a aproximação de ambos países.
A detenção dos navios norte-americanos, por mais que se apresente como um simples incidente naval, é encarado como uma provocação. O vice-almirante Ali Favadi afirmou, a propósito, que a Guarda Revolucionária vai actuar “assim que receber a ordem pertinente das autoridades iranianas”, referindo-se à libertação das embarcações, que acabou por acontecer horas depois. Ali Fadavi acusou as tripulações dos navios detidos de “não agirem de forma profissional” e ressaltou que não ofereceram resistência. Nos 40 minutos posteriores à abordagem, a marinha dos EUA e dos seus aliados presentes na região realizou diversas manobras, que também qualificou de “pouco profissional”.
O porta-voz da Guarda Revolucionária, general Ramezan Sharif, advertiu que a libertação dos militares norte-americanos está dependente da confirmação de que a violação das águas territoriais iranianas foi um acidente e não um acto de espionagem. A pronta reacção das forças iranianas foi motivada, antes de mais, para impedir a recolha de informação pormenorizada sobre os métodos de defesa e desdobramento da Marinha.
“Se as investigações mostrarem que não houve nenhum propósito, vão ser tratados em consequência disso, mas se os interrogatórios revelarem que foi um acto para fazer trabalhos de inteligência, os oficiais vão tomar as medidas pertinentes nessas situações”, assinalou o porta-voz da Guarda Revolucionária.
A detenção dos meios norte-americanos aconteceu na terça-feira às 16h30 (hora local), após entrarem nas águas iranianas perto da ilha de Farsi, onde o Irão tem uma grande base naval. Fontes do Pentágono informaram ontem à noite à agência Efe que os dois navios se deslocavam pelo Golfo Pérsico entre o Kuwait e o Bahrein quando sofreram uma falha e se desviaram para as águas iranianas. As águas do Golfo Pérsico, especialmente no Estreito de Ormuz, são das mais transitadas do Mundo e obrigam os navios de transporte e embarcações militares a passarem por corredores bem definidos.
Os Estados Unidos têm no Qatar e no Kuwait importantes bases militares e centros de operações especiais. Recentemente, o Pentágono queixou-se de provocações iranianas na região, como o lançamento no final de Dezembro de um foguete perto do porta-aviões USS Harry S. Truman.AFP